30 de março de 2017

Cinturão de sangue

Duas garotas em um único sonho: segurar o cinturão de campeã. Uma era mais Jovem e desferia uma série de golpes vorazes com os pés e com as mãos. Enquanto a outra, mais Experiente, era menos veloz, porém mais precisa em suas investidas. A luta tem seu início ao soar da sineta! Ambas se sentem numa mescla de nervosismo e confiança. Nervosismo devida à ansiedade e espero pelo evento. Confiança, pois ambas eram excelentes no que faziam. A luta é violenta e o sangue jorra no octógono. A mais Jovem abre vantagem, mas a Experiente não fica para trás, levando a decisão para o terceiro round. Inicia-se o round decisivo. A Jovem consegue uma boa sequência, sua notável inteligência e tamanha agilidade é implacável e o rosto da rival vai ganhando cor de sangue em sua forma literal, após dezenas de socos e chutes desferidos em velocidade. A vitória está próxima! Restam poucos segundos... A plateia vibra, mas ao subestima a adversária abaixa a guarda, tirando uma média com a multidão delirante. Recebendo prontamente, no reduzido período de distração, um golpe cirúrgico no rosto delicado, caindo len-ta-men-te na lona. Imóvel. Nocauteada. A torcida vai ao delírio! Na luta da vida a Experiência, mais paciente e resistente, venceu a Juventude, mais arrogante e frágil. O cinturão é entregue, a campeã comemora com olhos flamejantes de êxtase. De repente o cinturão começa a expelir um líquido rubro e denso... Observo: há um coração batendo ao centro. Percebo-me com um orifício no peito sangrado. É meu coração! Desmaio. Seria uma luta pelo meu amor? Pela minha pessoa? Meus adjetivos? Eis que acordo cambaleante, como se tivesse sido desferido por um golpe das lutadoras. Então, na solidão do meu quarto percebo o real sentido da metáfora: na briga de duas paixões o amor perene e verdadeiro sempre sai vencedor sobre a aventura passageira, pois o sentimento de amor persiste para além da eternidade, para além do real e do imaginário.


Gabriel Dalmolin

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